121ª SESSÃO ORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA IX LEGISLATURA.

 


Em 25 de novembro de 1986.

Presidida pelos Srs. Gladis Mantelli - 1ª. Vice-Presidente, Isaac Ainhorn - 1º Secretário, Werner Becker e Cleom Guatimozim - nos termos do Art. 11,§ 3º, do RI.

Secretariada pelos Srs. Isaac Ainhorn - 1º Secretário e Ignácio Neis - Secretário "ad hoc".

Às 14h, o Sr. Isaac Ainhorn assume a Presidência e solicita ao Sr. Secretário que proceda à chamada nominal dos Srs. Vereadores para verificação de "quorum".

Não havendo número legal para o início dos trabalhos, foi realizada nova chamada às 14h15min.

 

 


A SRA. PRESIDENTE (Gladis Mantelli): Havendo número legal, declaro abertos os trabalhos da presente Sessão.

A Ata da Sessão anterior e o ementário do Expediente estão distribuídos em avulsos.

Em votação a Ata. (Pausa.) Não há "quorum" para a votação da mesma.

O Sr. 1º Secretário dará conhecimento ao Plenário das proposições encaminhadas à Mesa, hoje, pelos Srs. Vereadores.

 

O SR. 1º SECRETÁRIO: À Mesa foi encaminhada proposição pelo Sr. Vereador (passando a ler) Aranha Filho (1).

É só, Sr. Presidente.

 

A SRA. PRESIDENTE: A seguir, passaremos ao período de Comunicações. O primeiro Vereador inscrito é o Ver. Clóvis Brum, que tem a palavra.

 

O SR. CLÓVIS BRUM: Sra. Presidente e Srs. Vereadores, Vereador. Deputado Mendes Ribeiro, isto são Pedidos de Previdências para resolver o problema de alagamento na Cidade. Não funcionou. Isto são Pedidos de Providências anotados, com datas, sobre alagamento na Cidade. Não funcionou. Efetivamente, não está o Prefeito de Porto Alegre atendendo aos Pedidos de Providências que a Casa - e eu diria até com muito sacrifício - tem encaminhado a S.Exa.

Os alagamentos na Cidade continuam cada vez piores. Sabem todos que, na Chácara das Pedras, pela Rua Teixeira Mendes, continuação da Av. João Wallig, o problema é seríssimo, pois a qualquer chuva há alagamento, e alagamento perigoso.

A frase "Uma cidade sem medo" parece-me que é de autoria do Dr. Jair Soares. Depois, esta frase foi encampada, com outras palavras, mas o mesmo significado, pelo Prefeito Alceu Collares. A Cidade está temerosa. A Cidade está com medo dos alagamentos. Principalmente agora que as ruas estão com as obras do Projeto Rio Guaíba, as coisas pioraram. Os alagamentos no Jardim Sabará continuam. Em que pese o trabalho brilhante do Ver. Auro Campani, os alagamentos continuam. E o Prefeito do PDT continua a fazer olhos e ouvidos de mercador para esse problema seríssimo. Mas será que o Ver. Clóvis Brum não teria outro tema para abordar? Quem sabe o Pacote Econômico? Este é recente! Este nós teremos muito tempo para debater! E o sorriso irônico do nobre e jovial Líder do PDS anima-me a continuar na tese do alagamento! Porque ele foi Líder do Governo Antônio Dib, nesta Casa, e o Prefeito Antônio Dib nada fez para combater o alagamento! Pelo contrário! Aliás, nada fez não! O Prefeito Antônio Dib resolveu um problema seríssimo de alagamento da Cidade, aquele ceifou três vidas preciosas na Nilo Peçanha! Ele resolveu colocar uma placa: "Em caso de alagamento, procure outra via pública". Não sei se a placa já caiu, mas estava lá. Realmente, a Cidade continua pior do que na época do Sr. Antônio Dib.

 

O Sr. Hermes Dutra: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) O Prefeito João Dib resolveu, efetivamente, problemas de alagamentos: Agora, V. Exa. não é obrigado a se lembrar dos problemas de alagamento que ele resolveu. O Prefeito João Dib, através do DEP, fez, em seus três anos de mandato, mais galerias e canalizações de arroios do que fez toda a administração do DEP desde que foi iniciado. E aquele problema da placa: o Prefeito João Dib colocou lá sob protesto de alguns de seus companheiros, que diziam a ele que, colocando aquela placa, iria impedir mais mortes e tirar o argumento de muita gente - que não é o caso de V. Exa., eu sei disso - que só trabalha em cima de tragédia. Entretanto, era o que se podia fazer, porque nem sempre se consegue fazer o melhor, embora se faça o melhor que se possa fazer. E foi o caso do Prefeito João Dib. Mas o aparte que eu ia fazer a V. Exa. - se V. Exa. não tivesse tergiversado para o lado do Prefeito João Dib, coitado, que está curtindo uma derrota nas urnas e não tem nada a ver com a reclamação que V. Exa. faz ao Prefeito Alceu Collares - é que, efetivamente, o problema de alagamentos em Porto Alegre é seríssimo e seria até injusto se achasse que o Prefeito Alceu Collares tem que resolver. Acho que está faltando, e tenho defendido isso, um Plano Diretor com recursos, porque não adianta trabalharmos em cima de papéis se não tivermos recursos suficientes para resolver o problema de alagamento, que é um problema decorrente do crescimento da Cidade, por ter tornado o solo menos permeável, entrando menos água do que em anos anteriores. Conseqüentemente, ela corre muito, entupindo bueiros. Mas acho que, com o Sen. Pedro Simon e com o apoio de V. Exa., certamente o Prefeito vai receber mais recursos. Não isento o Prefeito da culpa, mas não coloco toda culpa nele. Sou grato a V.Exa.

 

O SR. CLÓVIS BRUM: Eu é que sou grato a V. Exa. São aqueles apartes que ocorrem de maneira trágica: não acrescentam nada. Além de deslustrarem o pronunciamento, tentam colocar uma dose de desconhecimento. Não sabe o Ver. Hermes Dutra - porque não quer, já que ele é estudioso - que não é o problema do progresso que causa o alagamento. Aterraram o rio que havia na Av. João Wallig. O especulador imobiliário aterrou um rio que havia na Av. João Wallig, construindo a mesma avenida. Só que, na Protásio Alves, na altura com a Teixeira Mendes, há sete nascentes. Não se pode alterar o leito de um córrego, mas se aterrar e eliminar nascentes não se elimina. Agora, parece que há um projeto visando à construção - João Wallig, Teixeira Mendes - de uma galeria, uma canalização com diâmetro maior, com o DNOS, com recursos do Governo Federal, Ver. Hermes Dutra (e nesse diálogo com gestos o Ver. Brochado da Rocha me ajuda muito), e mais algumas obras que o Governo da Nova República vai fazer: na João Wallig, a canalização do antigo rio, que foi aterrado, tendo sido feita uma avenida em cima. Agora, quero dizer a V. Exa. que não pesco em águas turvas: a minha atividade é transparente. Sei que V. Exa. não disse, mas dou testemunho a V. Exa. Tramitava na Casa o processo do famoso corredor Osvaldo Aranha - Protásio. Convidamos os Diretores do DEP e do DMAE para discutir o que a Prefeitura iria fazer paralelamente às obras do corredor. Pasmem V.Exas: já estava construída a camada asfáltica do corredor, a qual teve de ser desmanchada, em frente ao Pronto Socorro, para fazer a travessia que o DEP e o DMAE não haviam feito! Assim se fez: todas as travessias do esgoto pluvial da Capital, no corredor da Protásio Alves, foram realizadas após a intervenção deste Vereador convocando o Diretor do DEP, Dr. Bento Porto.

 

O Sr. Hermes Dutra: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Sou obrigado a exigir de V. Exa. o mérito. Reconheça que este Vereador estava certo quando disse que V. Exa. não era daqueles que pesca em águas turvas e que é atuante. Reconheço o mérito de ser V. Exa. um Vereador atuante, acrescido agora o seu currículo desta ação, a qual eu desconhecia.

 

O SR. CLÓVIS BRUM: Todas as travessias do esgoto pluvial do corredor Protásio Alves foram feitas a partir do momento em que este Vereador convidou, na qualidade de Presidente da CJR, os Diretores do DEP e do DMAE para comparecerem à Câmara de Vereadores lá naquela salinha de esquina no 13º andar do prédio onde funcionava a Casa. Anda mal o esgoto pluvial. Enquanto o DEP não for extinto, enquanto o DEP não voltar para o DMAE, ele não tem recursos para fazer frente às obras de alagamento na Cidade. Por isso tem de voltar ao seu órgão de origem. A partir daí, teremos recursos.

 

O Sr. Auro Campani: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) O nobre Vereador fez a afirmação sobre o bairro onde moro, o Jardim Sabará. Pelo visto, não tem andado muito por lá e está fazendo algumas afirmações que não são verdadeiras. Em primeiro lugar, o Bairro Jardim Sabará só tinha um problema de alagamento, que era na Av. Alberto Pasqualini, quase com a Guadalajara, onde está sendo feita, neste momento, a canalização. Se V. Exa. passar por lá, vai ver um maquinário do DEP com um grupo de pessoas trabalhando na canalização do valão. Em outra: temos oito equipes do DEP que estão mudando toda a rede de esgoto da parte direita da Av. Alberto Pasqualini, o que me leva a concluir que o nobre Vereador não tem andado muito pelos bairros e está falando algumas coisas que não procedem. Agora, já vi V. Exa., há alguns anos atrás, lá, falando em canalização e coisa e tal, mas parece que só agora, na Administração Collares, as coisas estão se realizando. Era só isso.

 

O SR. CLÓVIS BRUM: Só queria fazer uma pergunta a V. Exa. para receber uma colaboração. Como é o nome da rua, nobre Vereador, ao lado da Alberto Pasqualini, para o lado da Coinma, paralela à primeira ali?

 

O Sr. Auro Campani: A Rua Manoel Bandeira.

 

O SR. CLÓVIS BRUM: Paralela?

 

O Sr. Auro Campani: Exatamente.

 

O SR. CLÓVIS BRUM: Vamos deixar nos Anais registrado para se terminar, definitivamente, com a mentira. Não posso mais aceitar que Vereador minta nesta Casa. Mentiroso não tem lugar para diálogo comigo. Vereador relapso e mentiroso não. Eu fui na Rua Manoel Bandeira, Ver. Auro Campani, para ajudar a retirar famílias, porque a água estava tomando conta em mais de 40 casas. O Vereador mora no Bairro e não sabe. Pois a Manoel Bandeira, entre a Guadalajara e a Ernesto Pellanda, estava alagada, inclusive com esgoto cloacal tomando conta das casas. Em outras palavras: fezes! Fezes entravam dentro das casas! Conheça mais o bairro de V. Exa., esteja mais atento e trabalhe mais. Não venha trazer trocadilhos, Vereador. Esta Rua Manoel Bandeira, a primeira rua paralela à Pasqualini, entre Guadalajara e Ernesto Pellanda, esteve alagada e este Vereador foi lá. E a solução do problema não veio ainda. Continua a Rua Manoel Bandeira sob ameaça de novos alagamentos. E vem o Vereador aqui, com ar irônico, ironizar um trabalho sério que fazemos ao longo do tempo nesta Casa. Não é só agora que estamos condenando. Estamos condenando há muito tempo e pedindo providências.

 

(Aparte anti-regimental do Ver. Auro Campani.)

 

O SR. CLÓVIS BRUM: Solicito à taquigrafia que retire do meu pronunciamento qualquer aparte anti-regimental.

Peço ao Vereador que se atualize mais, que visite mais o seu bairro e apareça, então, para um debate sério. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Próximo Vereador inscrito, Ver. Jorge Goularte (ausente) O Ver. Jaques Machado cede o seu tempo ao Ver. Brochado da Rocha.

 

O SR. BROCHADO DA ROCHA: Sra. Presidente e Srs. Vereadores, assim como o Vereador que me antecedeu nesta tribuna mostrava alguma indignação e algum cansaço por trazer assuntos repetitivos e que ensejavam, sobretudo, comentários de mau caráter, paralelos, eu quero dizer aos Senhores que irei encaminhar ao Plenário desta Casa um Voto de Congratulações com o senhor até então Diretor do Departamento de Pesquisas, Geografia e Estatística, segundo a Presidente da Casa, que me deu o nome, o Dr. Edmar Bacha, que fez o seguinte: não aceitou os trambiques da Nova República, os trambiques que eram iguais, ou assemelhados, ou inspirados...(Aparte anti-regimental.) Não, piores não. Tudo é a mesma turba. Considero a Velha e a Nova República, no campo econômico, a mesma turba política. Nós, quando éramos a frente de oposição, comentávamos e queríamos, até, exilar o gordo Delfim, criticando-o acerbamente porque ele teria, na década de 70, corrigido uns cálculos-índices. Agora esta Nova República já apresentou três cálculos, que são de uma cretinice heróica, despudorada. E no Voto de Congratulações vai constar a justificativa: "porque não aceitou compactuar com os despudorados homens que detêm o setor econômico da Pátria". Porque o Dr. Funaro, com a sua postura cândida, não pode continuar impune, assim como o Dr. Sarney, que levou do PDS e da ARENA os hábitos com os quais nós nos confrontávamos. E agora tudo passa a ser normal. Se não for passado por esta Casa um Voto de Congratulações por este cidadão se rebelar contra o Dr. Funaro "et caterva", aí temos que dar o título de Cidadão de Porto Alegre para o Dr. Delfim por um princípio de coerência. Diz-me aqui o recém-eleito candidato do PMDB que seria um belo discurso. Mas eu queria chamar a atenção de S.Exa., e ele me proporciona um ótimo mote, para o fato de que entre o belo discurso e a moralidade, a probidade e a coerência do discurso, vai uma distância enorme, e não podemos compactuar mais com os belos discursos acompanhados pelas monstruosas mentiras e engodos. Afinal, é lícito e saudável que se ganhem eleições. Até acho que muitos candidatos do PMDB, como o nosso Vereador, muito fizeram para ganhar eleições, muito mérito têm, mas não precisava, certamente, S.Exa. ganhar eleição, como certamente não precisaria o Dr. Simon ganhar eleição, montados na desfaçatez do pacote para, depois, mexerem nele. Porque é preciso ser estabelecido o trato nesta Casa: quem são os homens que estão em defesa da Pátria, em defesa do povo e quem são os mentirosos da Pátria, os que faltam com a verdade, os que dilapidam o patrimônio do povo brasileiro, que é a sua Nação, que é o seu povo? E estes se encontram em cargos ministeriais. Até me diz o hoje Deputado Mendes Ribeiro, aqui, que são os mesmos, e ele conhece porque já militou com os caras todos.

Eu quero dizer que esta Casa não pode continuar silenciosa diante do despudor, porque... Quais as palavras com que eu vou classificar? Se eu tentar ser brando, qual é o eufemismo que eu vou dizer? Vou dizer que o cidadão pediu demissão, porque ele não compactuou com cálculo? Não é verdade. Primeiro botaram o cálculo integral da inflação, depois o médio, depois o misturado, depois este. É vergonha! Chegaram a atirar, Srs. Vereadores, que era da Fundação Getúlio Vargas. A Sra. Vice-Presidente da Casa trabalha no ramo e, certamente, qualquer dia, fará um comentário sobre esses assuntos. Acredito que não sobre o cinismo da Nova República, mas sobre as técnicas de como enganar, o que foi muito usado nisso aí tudo. Não sou especialista em economia e por isso não o faço. Mas, encaminhado o assunto, tiraram da FGV, levaram para o Instituto Geográfico, Estatístico, etc. - é um nome grande: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - botaram esta bela figura - Edmar Bacha -, que tem até um livro, muito interessante e recomendável, mas não recomendável para quem não tem decência pública. Em verdade, precisa ser esclarecido um detalhe: para mim, como cidadão brasileiro, que leio jornais, sabia que a maior titulação que tinha na Pátria brasileira o Sr. Funaro era o fato de ter propriedade de uma fábrica de brinquedos para crianças e estar esta empresa, atualmente, em regime de concordata. Era esta a notícia e conhecimento que tinha desse cidadão. Num outro dia, era este o currículo do Dr. Funaro que possuía. Se alguém mais, nesta Casa, for melhor do que eu, ótimo, e é saudável que se conheçam os currículos. Mas esse cidadão passou de concordatário a Ministro da Fazenda. Isso é um pouco de piada. Proporciona, agora, essas gaiatices e imoralidades que levam o Dr. Edmar Bacha a pedir demissão. Por isso, o Brasil não vive só um luto terrível pelas medidas aplicadas, além de erradas, mas, sobretudo, também, por serem desonestas. E a demissão do Dr. Edmar Bacha é um atestado eloqüente de quão desonesto é o comportamento pseudo-ético do governo que tem, entre os seus mentores, um moralista, entre aspas: o Dr. Brossard. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Isaac Ainhorn.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sra. Presidente e Srs. Vereadores, nada melhor do que um dia depois do outro. É inacreditável, Sra. Presidente e Srs. Vereadores! Verdadeiramente, deixa o povo brasileiro em estado de absoluta perplexidade o autoritarismo da Nova República. Este País se valeu, durante 20 anos, dos decretos-lei, que continuam a ser editados sem o menor respeito à opinião pública, aos brasileiros recém-saídos de um processo eleitoral. Por que não editaram, Ver. Clóvis Brum, algumas medidas antes das eleições? O congelamento ainda continua, mas as medidas com relação aos aluguéis já estão anunciadas para após o dia 28 de fevereiro, quando cessa o congelamento. E nessa matéria, pasmem V. Exas., não há exemplo nenhum de livre negociação em matéria de aluguéis na história do inquilinato brasileiro, excetuando-se as disposições do Decreto 24150, de 1934 - a famosa Lei de Luvas. Não há exemplo nenhum. Há mais de cinqüenta anos, não se edita diploma jurídico, diploma, evidentemente, entre aspas, porque este Decreto-Lei 2290, que pune e penaliza os brasileiros, não pode ser chamado de diploma legal na nova época que estamos vivendo, sob o império da Lei e do Direito.

O Sr. Presidente da República deveria ouvir o Congresso Nacional. Mas não. Revoga disposições legais que regem matéria de locações. Revoga as disposições sobre o reajuste dos aluguéis presentes na Lei 6649, de 1979, da época do General Figueiredo, muito mais benevolentes, muito mais defensoras do inquilino, muito mais defensoras do locatário. Hoje, temos um governo que está imediatamente na defesa dos banqueiros, das grandes empresas internacionais e que agora pune, Ver. Clóvis Brum, penaliza todos os inquilinos do Brasil. E sabe V.Exa. - evidentemente não por causa própria, porque V. Exa., certamente, deve ter casa própria - como um homem sensível, sabe V. Exa. o quanto representam, na receita familiar, os encargos com aluguéis. E vejam V. Exas. a notícia a que assistimos perplexos e sem condições de nada fazer: o governo liberou os preços dos aluguéis. A partir de agora, todos os contratos novos de aluguel poderão ser reajustados conforme o índice que o locador desejar. E não é só isto. Os Senhores sabem que, em nosso País, está instalada uma indústria de tubarões que vivem da administração de imóveis, cobrando permanentemente dos locatários taxas extorsivas. São eles que vão administrar, de forma cruel e selvagem, mais uma vez, os dispositivos do Decreto 2290, que permite a livre negociação em matéria de aluguéis entre locador e inquilino. É inacreditável! A ditadura, nos seus momentos mais cruéis, o autoritarismo sob o tacão militar, é inacreditável, em matéria de Direito imobiliário - Ah, Ver. Clóvis Brum, nada como um dia depois do outro! - não foi tão cruel, em relação ao inquilino, em relação ao locatário, em relação ao trabalhador que paga aluguel, quanto o governo da Nova República, que acaba de editar, se valendo ainda - é triste, mas deve ser feita esta afirmação - dos instrumentos do autoritarismo, do velho expediente, do já tão surrado expediente do decreto-lei.

É esta a realidade que estamos a assistir a permanecer as regras do Decreto-Lei 2290, estabelecendo a livre negociação entre locadores e locatários. Leia-se: administradoras de imóveis, meia dúzia em cada capital do Estado, impondo e exigindo as piores condições aos inquilinos. E com o apoio de quê? Com o apoio da Lei. É inacreditável! Terão, agora, as grandes imobiliárias de Porto Alegre, as grandes imobiliárias do Rio de Janeiro, as grandes imobiliárias de São Paulo um diploma legal para estabelecer aos inquilinos o valor que quiserem em matéria de aluguéis. E quando sabemos que há uma carência de imóveis e que os valores dos aluguéis serão ditados simplesmente pelos princípios do liberalismo, pelo princípio da oferta e da procura, nós já sabemos a que valores irão os reajustamentos dos aluguéis. Não precisa iniciar a 28 de fevereiro, porque já está legislando para o futuro. Já está definido o descongelamento e estabelecendo a livre negociação em matéria de acerto de aluguéis. Mas não só isso. Hoje já se assiste, em relação aos imóveis desocupados, valores verdadeiramente astronômicos em matéria de aluguéis. É triste, mas este é o espetáculo a que estamos assistindo: a retirada de uma coisa que é o mais sagrado direito dos cidadãos. A Nova República, através deste Decreto, está retirando este direito dos cidadãos, o direito de habitação, o direito da moradia, que está assegurado na Constituição Federal. Com o gatilho de 20%, como é que um trabalhador vai pagar os novos aluguéis de imóveis residenciais? É triste, não se falando, evidentemente, no que está acontecendo na área da casa própria, dos mutuários do BNH, em que os saldos devedores estão sendo reajustados em 32%.

 

O Sr. Clóvis Brum: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Eu acredito que, com a nova Constituição, com a Assembléia Nacional Constituinte, muitos, aliás, todos os problemas que têm em seu bojo o autoritarismo vão desaparecer. Essa figura do decreto-lei vai desaparecer. Aliás, eu até espero que a Bancada do PDT, o quanto antes, apresente um projeto para retirar algumas medidas que o Prefeito Collares toma através de decreto, como é o caso do aumento da água...

 

O SR. ISAAC AINHORN: V. Exa. está confundindo decreto, que é regulamentador de lei, que é competência do Prefeito, que é competência do Executivo, com decreto-lei, que é uma forma do Executivo fazer lei indevidamente e autoritariamente. Eu lhe concedi o aparte, mas V. Exa. insiste em temas tão surrados!

 

O Sr. Clóvis Brum: Mas não são surrados, Vereador. Eu também tenho as minhas discordâncias com algumas medidas governamentais. Eu também discordo. Eu acho que a arte de administrar tem que levar em seu bojo...

 

O SR. ISAAC AINHORN: V. Exa. deveria ter sido mais incisivo. V. Exa. está muito vacilante com a Nova República.

 

O Sr. Clóvis Brum: Mas ninguém conseguiu congelar preços neste País. V. Exa. sabe que não é fácil enfrentar o poder econômico, as multinacionais. Era um governo que praticava a baderna com a sorte dos brasileiros.

 

O SR. ISAAC AINHORN: A mesma linguagem que os golpistas usaram em 64.

 

O Sr. Clóvis Brum: E não esqueça de que o Dr. Brizola quis a prorrogação do mandato desses mesmos golpistas, do Dr. Delfim Neto.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Faço votos que a Nova Assembléia Nacional Constituinte acene com alternativas para assegurar, não somente de forma programática, o direito à habilitação. Qualquer ditadura assegura - até o Paraguai assegura - o direito à habitação. Aqui está assegurado pela Emenda Constitucional nº 1 dos ministros militares, mas, infelizmente, sabemos que fica só no programa. E V. Exa. sabe. Eu não à tenho, Ver. Clóvis Brum, as esperanças que V. Exa. tem em relação à Constituinte, quando sabemos - e V. Exa. sabe porque é um homem informado - que os deputados que estão compondo a Assembléia Nacional Constituinte, na sua grande maioria, não fazem o jogo das forças progressistas, dos trabalhadores e das forças populares. V. Exa. sabe, e mais tarde, nos próximos anos, podemos chegar nesse triste resultado, e V. Exa. terá oportunidade, mais uma vez, de fazer uma auto-crítica. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Próximo inscrito, Ver. Ignácio Neis, cede o seu tempo ao Ver. Antonio Hohlfeldt.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sra. Presidente e Srs. Vereadores, agradeço ao Ver. Ignácio Neis pela cedência do tempo. Este se faz necessário diante da omissão do Sr. Secretário Municipal dos Transportes, Marcos Ledermann, em resolver um problema grave para boa parte dos moradores da Zona Norte da Cidade. Estamos recebendo no Plenário uma comissão de moradores das Vilas Nova Gleba, Santa Rosa, Santa Clara e João Parisi que, há meses, estão tentando resolver com o Sr. Secretário dos Transportes, que nunca se dignou a fazer-se presente, pessoalmente, nas assembléias de moradores, limitando-se a enviar técnicos que não têm poder de solução das questões reivindicadas por esses moradores. Esses companheiros vêm, há meses, queixando-se do péssimo atendimento do monopólio da SOPAL naquela área, piorado depois que a SMT, na atual gestão, decidiu-se pela separação da linha única de ônibus que atendia, sobretudo, as Vilas Santa Rosa e Nova Gleba. Essa separação fez com que os ônibus que trafegam de cinco em cinco minutos melhorassem, passando a trafegar de 12 em 12 minutos, com isso ampliando a lotação dos carros de tal forma que não há mais condições de os moradores se deslocarem para seus trabalhos . Não estou falando apenas na hora do pique, mas no dia-a-dia.

 É provável que os Vereadores Clóvis Brum e Auro Campani, que me ouvem e que integram a Comissão de Transportes da Casa, que hoje deveriam ter uma reunião para receber esses companheiros e que talvez por esquecimento do Presidente da Comissão, Ver. Elói Guimarães, que se encontra ausente e não marcou a reunião confirmando, apesar de ter recebido um ofício há mais de dez dias pedindo essa reunião, é provável que os Vereadores Clóvis Brum e Auro Campani tenham alguma maneira de colaborar com esta Comissão e estes moradores. Ocorre que, além do crescimento natural que vem se verificando na Zona Norte, se vem enfrentando, também, um problema que é de todos nós conhecido, que é a questão de que moradores da fronteira de Porto Alegre, e, portanto, no caso de Alvorada, devido ao preço fantástico da passagem no vizinho Município, andam a pé das suas casas até a entrada de Porto Alegre e vem também expandir a demanda de passageiros nesses ônibus. O problema tem sido realmente terrível para os moradores da Nova Gleba e da Santa Rosa. Dezenas de reuniões foram marcadas, foram realizadas não com o Secretário, que, como disse, sempre se faz ausente, mas com técnicos que enrolam e, quando apertados, acabam confessando que não têm autonomia para decidir as coisas. E o Secretário Marcos Ledermann continua querendo resolver a coisa não segundo a lição de Salomão, mas segundo a lição de algum sábio que ninguém ainda conseguiu identificar, porque, ao invés de objetivar a solução, que é aumentar o número de ônibus na região - ponto, nada mais do que isso -, fica empurrando os ônibus de uma linha para outra conforme a mobilização maior e menor de uma e outra Vila. Então, quando os moradores da Nova Gleba se mobilizam, a SMT deve dar um aviso na SOPAL, a SOPAL tira os ônibus da Santa Rosa e passa a Nova Gleba. Quando o pessoal da Nova Gleba se mobiliza, tira da Nova Gleba e leva para a Santa Rosa. Mas resolver o problema, que é bom, até hoje o Dr. Marcos Ledermann, que se preocupa tanto com os motoristas de táxis, não conseguiu resolver, porque não se preocupou tanto com a sorte dos moradores da Zona Norte. Tentaram-se soluções estapafúrdias do tipo diminuir trajetos, jogar o ônibus em linha direta desde a vila até o Centro através da Cairu ou através da Castelo Branco. Então, as pessoas têm que pegar dois ônibus, têm que vir até o Centro e do Centro trocar de ônibus e voltar para trás, para chegar com uma maior disponibilidade de carros. Mas, realmente, não é essa a solução. A solução objetiva que os moradores da Zona Norte pedem é simplesmente que a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, que o Prefeito, que foi eleito também com os votos da Zona Norte, que tem uma concentração de Vereadores do PDT na Zona Norte, cumpra com aquilo para o que foi investido na condição de Prefeito, que é atender a demanda de ônibus, ou seja, aumentar o número de ônibus, só isso. Curiosamente, não é o mesmo problema do Parque dos Maias, talvez porque, lá, as pessoas tenham mais posses, talvez porque, lá, as pessoas vivam melhor e mereçam mais ônibus, maiores ônibus, melhores ônibus, mais novos ônibus e um número mais permanente de ônibus. Agora, a vila popular que se dane; as pessoas que andem a pé, as pessoas que gastem tempo, as pessoas que cheguem atrasadas nos seus serviços, pois isto não é da competência, ao que parece, do PDT e do seu Prefeito!

Eu queria, aqui, fazer um apelo aos Vereadores do PDT, já que não vejo o Líder de Bancada presente no Plenário, para que, realmente, se leve um pouquinho mais a sério estas questões e que não se inventem soluções do tipo de criação de estação de transbordo para a Zona Norte, para não repetirmos aqueles dramas que eu, a Ver.ª Jussara Cony e o Ver. Valneri Antunes, hoje falecido, infelizmente, acompanhamos no nosso primeiro ano de vereança, ou seja, a estação de transbordo Antônio de Carvalho lá, no Partenon. Era lamentável e vergonhoso o que se fazia com aquela população. Na verdade, o que temos que resolver é parar de transportar gente como gado, que é o que a SOPAL faz, e, sobretudo, tirar o monopólio de uma única empresa de ônibus no serviço de transporte coletivo. Neste sentido, eu queria apelar - e, como o Ver. Clóvis Brum me pede um aparte, eu tenho certeza que ele irá tomar esta providência - para que a Comissão de Transportes desta Casa mantenha, a partir de agora, um contato com esses moradores, Ver. Clóvis Brum. Marque-se uma reunião com eles. E eu, embora não integrante desta Comissão, mas na condição de Líder do PT, disponho-me, também, a acompanhar V. Exa. e os outros Vereadores da CUTHAB para que mantenhamos um contato com o Prefeito para que se decida, de uma vez por todas, a questão do transporte coletivo, não digo na Zona Norte, pois talvez seja pedir demais à atual administração, mas ao menos desta área da Zona Norte, que vem sendo, efetivamente, castigada. E não é de hoje. É de muitos anos, da administração do PDS. Só que esperávamos uma melhoria deste tratamento na atual administração.

 

O Sr. Clóvis Brum: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Nobre Vereador, nós teríamos o máximo prazer de conversar com a comunidade, que luta por transporte coletivo mais adequado e mais pronto. Mas temos que registrar, também, que nem na administração do PDS, justiça seja feita, o Prefeito Dib e o Secretário dos Transportes retiraram ônibus da Companhia Carris Porto-Alegrense para colocar em linhas de Viamão. Eu imaginava que o Dr. Marcos Ledermann iria determinar ao Presidente da Carris que colocasse duas novas linhas de ônibus na Zona Norte. Não o fez. Pelo contrário, mandou ônibus para realizar o transporte de passageiros no Município de Viamão. Então, veja V. Exa. que as coisas andam muito mal em termos de transporte coletivo com a atual administração. Muito obrigado.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Agradeço a V. Exa. pelo aparte e pediria que, aproveitando a presença dos companheiros, pudéssemos combinar, Ver. Clóvis Brum, na ausência do Presidente e do Vice-Presidente da Comissão de Transportes da Casa, uma reunião, se possível com a maior urgência, na quinta-feira à tarde, para que possamos procurar o Secretário Marcos Ledermann, já que ele não se faz presente no atendimento das reivindicações. Vamos procurá-lo na SMT ou vamos convidá-lo a comparecer a esta Casa para se tentar o encaminhamento dessa questão da Zona Norte. Parece-me um absurdo não se ter número de ônibus suficiente e, sobretudo, se jogar aos moradores o desafio de que, para ter mais ônibus, tem que aumentar a passagem. Ou paga mais caro para ter ônibus, ou fica sem ônibus e anda a pé, o que, realmente, não é solução.

 

O Sr. Brochado da Rocha: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Eu gostaria de dizer que V. Exa. está cometendo uma injustiça.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Não. O Prefeito é que comete uma injustiça com os moradores, Vereador.

 

O Sr. Brochado da Rocha: Às vezes, dizem que V. Exa. é apurado, e eu defendo V. Exa.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Seis meses os moradores esperando ônibus não é apuro, Vereador.

 

O Sr. Brochado da Rocha: O que eu queria dizer, Vereador, é que deve ser chamado o Secretário dos Transportes. Deve ser anunciada essa chamada, mas não deve ser apenas o assunto da Zona Norte, porque acho que o da Zona Sul está pior.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Eu recebo, hoje, moradores da Zona Norte, Vereador.

 

O Sr. Brochado da Rocha: Essa era a injustiça que eu comentava. V. Exa está sendo injusto. A Zona Sul está pior.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Eu generalizo, Vereador. O transporte de toda a Cidade de Porto Alegre está uma balbúrdia, se V. Exa. quiser. Aceito a intervenção de V. Exa. Toda a Cidade está péssima. Se V. Exa., que é do partido do Governo, reconhece que o da Zona Sul está péssimo, imagine o que vão dizer os moradores!

 

O Sr. Brochado da Rocha: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Vereador, posso ser do partido do Governo, mas não sou burro e nem, tampouco, vaca de presépio.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Muito obrigado, Vereador. Eu fico satisfeito em ouvi-lo. Agora, espero que à sua intervenção V. Exa. some uma ação conjunta conosco.

 

(Aparte anti-regimental do Ver. Brochado da Rocha.)

 

Assinar só não basta. Se fosse para assinar, nós já teríamos algumas coisas evitadas. Por exemplo, não teríamos acabado com o BNH através de um decreto-lei, porque assinatura é o que não faltou, aí, de funcionários, para salvar a situação. Se dependesse de assinatura, nós não teríamos despejo de pessoas que entram em áreas por falta de moradia. E por aí afora. Acho que não basta assinar, Ver. Brochado da Rocha, e V. Exa. sabe disso. Nós precisamos agir. Talvez seja exatamente a ausência do trabalho das Comissões Permanentes que tenha redundado, por exemplo, na não-eleição de praticamente nenhum Vereador desta Casa nas suas pretensões à Assembléia Legislativa. Quem sabe lá! Porque, de repente, os moradores elegem Vereadores, chegam a esta Casa, mas as Comissões Permanentes estão absolutamente ausentes, sem trabalho. E não se reúnem, e nós sabemos há quanto tempo não se reúnem. Então, eu pediria, Ver. Clóvis Brum - não sei nem, a estas alturas, com o falecimento do Ver. Valneri Antunes, quem é o Vice-Presidente da Comissão, mas confio na iniciativa de V. Exa., do Ver. Auro Campani, que me ouve e que pela listagem que eu tenho integra a Comissão de Transportes -, que nós pudéssemos conversar com estes companheiros para marcar, formalmente, uma reunião para discutir o assunto e irmos até a SMT. Já que a SMT não se digna vir até nós, podemos ir até lá e tentar, sobretudo, encaminhar os problemas destes companheiros. Sou grato.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Hermes Dutra.

 

O SR. HERMES DUTRA: Sra. Presidente, Srs. Vereadores, eu, obviamente, vou-me referir, também, ao pacotaço que o Governo desancou em cima dos brasileiros, mas antes queria fazer um rápido comentário sobre um problema gravíssimo que está a merecer uma reflexão por parte de todos os envolvidos nesta questão. Eu me refiro ao problema havido com os táxis na Cidade de Porto Alegre e de plano já quero afirmar que não podemos admitir que a Cidade continue sem táxis. Não é possível, seja por que motivo for, que o porto-alegrense não tenha táxi a sua disposição. Eu entendo perfeitamente o drama dos motoristas que, de uma hora para a outra, tiveram acrescido, em seus custos, o custo de combustível, que é principal fator no cálculo, o qual teve um acréscimo perto de 60%. Sessenta por cento, para ser mais preciso. Entendo a justiça da revolta e de seu movimento paredista. Entretanto, não podemos deixar, na Cidade, pessoas idosas, doentes, com compromissos urgentes, a ficarem a catar táxis, desesperadamente, sem que pare um táxi, quando raramente passam pelas ruas de Porto Alegre, ou mesmo quando recusam-se a conduzir passageiros. É claro que esta crise deve ser creditada ao Governo Federal e ao seu partido maior, o PMDB. Hoje pela manhã, ainda dizia aos motoristas de táxis que deveriam se dirigir a esta Casa e clamar junto ao seu eleito, dado que a maioria dos motoristas desta Cidade fazia campanha para um candidato a deputado do PMDB, que, oportunisticamente, hoje, já faturava em cima da greve para seu benefício próprio, como, aliás, faz com a miséria, a necessidade, etc. Mas não estou aqui para criticar os motoristas de táxis, nem os demagogos que deles se aproveitam. Estou aqui para fazer um apelo ao bom senso. Este meu apelo se traduz numa proposta. A imprensa noticiou que o Sr. Prefeito propôs um aumento de trinta e pouco por cento e os motoristas não aceitaram sob a alegação de que ele não cobre os custos operacionais. Até concordo com os motoristas. Mas faço uma proposta no sentido de que aceitem o aumento preliminarmente, enquanto se continua a discussão a nível municipal, inclusive, como disse o Prefeito, pela televisão, "de analisar os decretos que somente hoje estão sendo publicados, até para, quem sabe, viabilizar um aumento maior". Mas não deixem a Cidade sem táxis. O porto-alegrense não pode ficar sem alternativa de transportes, principalmente aquele que não tem automóvel, aquele que necessita de táxis e tem, neste meio de transporte, a única forma de locomoção.

Faço, pois, um apelo ao Sindicato de Motoristas de Táxis para que aceite esta proposta do Prefeito, que entendo pouca. Acho que, realmente, os motoristas estão a merecer um aumento maior, mas não na proposta que estão a solicitar, de 150%. Peço que os motoristas voltem, imediatamente, ao trabalho para que a Cidade, efetivamente, não fique sem o serviço de táxi, até porque o serviço, em sendo uma concessão pública, pode vir a trazer prejuízo para os próprios motoristas. E, sabidamente, mais da metade da frota de Porto Alegre é de motoristas autônomos, que não resistiriam a uma parada maior.

 

O Sr. Rafael Santos: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Eu gostaria de registrar a lentidão com que o Governo Municipal está tratando este problema dos táxis. O problema surgiu na sexta-feira. Passou-se sábado, domingo e segunda-feira. Somente na segunda-feira é que o Prefeito Municipal foi fazer as primeiras tratativas para solucionar o problema. Quer dizer: não deu a importância para o fato que vem deixando Porto Alegre sem táxi. Eu não sei por que a Prefeitura Municipal, o Sr. Prefeito Municipal ignorou, simplesmente, que a Cidade estava sem táxi, quando, na própria sexta-feira, no sábado e domingo, poderia ter solucionado o problema para que, na segunda-feira, Porto Alegre já estivesse com os táxis normalizados.

 

O SR. PRESIDENTE (Isaac Ainhorn): Solicito aos Srs. Vereadores que se atenham ao pronunciamento do Vereador que está na tribuna.

 

O SR. HERMES DUTRA: Sou grato a V. Exa. Mas, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu acho que, ao longo desta semana e da semana que vem, nós teremos a oportunidade de analisar de forma mais conveniente as medidas tomadas pelo Governo Federal. O ilustre Governador eleito do Rio Grande, a quem eu tenho um profundo respeito como pessoa humana, teve a cara-de-pau de dizer na imprensa, ontem, que o pacote do Governo devia ter sido lançado antes das eleições. Pois, vejam bem, S.Exa. reconhece que foi eleito mediante um engodo. Quem não se lembra do Dr. Fogaça, do Dr. Bisol, do Dr. Odacir Klein, do Dr. João Gilberto e do Dr. Pedro Simon a dizerem na televisão e a martelarem diariamente que "nós representamos o Plano Cruzado, nós somos o congelamento; eles, da Aliança Popular, não querem o congelamento, eles são contra o congelamento; votando no PMDB, vocês estarão votando a favor do congelamento de preços"? Eu ouvi diariamente, porque a mim cabia cuidar dos programas de televisão do meu partido. Eu ouvia e gravava os programas de televisão. Ora, se o Ministro vem a público dizer que o pacote deveria ter saído antes, e durante a campanha disseram que o congelamento era o próprio PMDB, ou mentiu ontem, ou mentiu durante a campanha. Vou mais longe: se S.Exa., que é um homem honrado, eu sei disto, reconhece publicamente que foi eleito sob uma farsa, por que, então, não renunciam, ele e o Dr. Sinval Guazelli e se convocam novas eleições para a semana que vem? Aí, se o povo estiver de acordo, certamente vai votar de novo no PMDB. Eu não tenho a menor dúvida disto. Ou então serei obrigado a acreditar que ou era mentiroso o candidato Pedro Simon, ou é mentiroso o Governador eleito, Pedro Simon. Eu tenho gravadas 17 fitas, com todos os pronunciamentos feitos pela televisão, e estas gravações estão à disposição, mostrando o Dr. Fogaça dizendo - e até suas veias pulavam: "eles são contra o Plano Cruzado. A Nova República fez o congelamento. Ao votar no PMDB, vocês votarão no congelamento de preços". Iludiram a população brasileira, enganaram-na. Mas o resultado não vai demorar. Eu disse na tribuna, esses dias, que quem pesca em água turva colhe peixe envenenado. E fui mau profeta. Agora, o golpe que o PMDB deu na população brasileira lhe será cobrado. Eu não tenho a menor dúvida de que o povo saberá reagir já na próxima eleição de 88, porque eu sou extremamente coerente. Sempre achei que o Plano Cruzado precisava de retificações. Disse nesta tribuna. E fui mais longe: se estas retificações necessitassem sacrificar o povo, que as fizessem, porque, acima do sacrifício passageiro, eventual, deste ou daquele segmento, estava o desenvolvimento econômico e social do País. Mas não posso concordar com o engodo, com o engano, com o golpe que deram à população brasileira.

Há pouco, o Ver. Rafael Santos mostrava-me um escrito, num canto do jornal, que responde à afirmação mentirosa - eu não sou de usar termos muito pesados, mas não tenho outra palavra - do Governo, que só atinge 18% da população brasileira. Ele atinge quem não fuma, quem não bebe, quem não adoece, quem não usa automóvel, quem não usa táxi, quem não tem casa própria. Socorra-me, Ver. Rafael Santos. Quem mais ele atinge?

 

O Sr. Rafael Santos: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Deve usar velas à noite e ser diabético, ou estar fazendo regime.

 

O SR. HERMES DUTRA: É este o brasileiro que o pacote não atingiu. Este brasileiro está livre. E o Ministro tem a cara-de-pau de dizer que este brasileiro que o Ver. Rafael Santos me ajudou a lembrar aqui representa 82% da população brasileira. Mas o mais grave é a mascaração do índice de inflação e o grande engodo que o venerável Dr. Ulysses Guimarães fez com a ilusão que vendeu aos brasileiros, de que o PMDB garantiu o tal de gatilho salarial. Esta é outra deslavada mentira. Se tivessem tirado o gatilho salarial, o que aconteceria? Nós teríamos uma inflação medida decentemente, e os trabalhadores poderiam reivindicar aumento de salário em cima de índices que demonstrassem a real situação brasileira. Mas fizeram um mascaramento. Preservaram o gatilho e mexeram no índice. Resultado: quando aumentar 20%, o trabalhador será aumentado.

 

O SR. CLÓVIS BRUM (Questão de Ordem): Estamos atentos, assistindo ao pronunciamento do Vereador que se encontra na tribuna. Penso estar concluído o seu tempo regulamentar. Entretanto, não pedimos que a Mesa tome as providências que são da sua obrigação; apenas queremos continuar ouvindo o orador.

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa informa ao nobre Ver. Clóvis Brum que o procedimento do Vereador que está aqui se espelha, exatamente, nos procedimentos dos seus colegas quando presidem os trabalhos, tendo, evidentemente, uma tolerância normal com os Vereadores, os nossos colegas, quando se encontram na tribuna, para conclusão do seu pensamento, razão pela qual a Mesa apela para que o nobre Ver. Clóvis Brum - que me parece ter entendido isso - tenha suficiente generosidade, e a tem, e a Mesa também, para permitir que o nobre Vereador conclua o seu pronunciamento, como é praxe nesta Casa.

 

O SR. HERMES DUTRA: Eu quero contestar a Questão de Ordem e dizer que a generosidade do Ver. Clóvis Brum eu aceitarei sempre, mas não agora. Eu estou falando depois de ter esgotado o meu tempo porque alguns Vereadores, neste Plenário, deseducadamente com quem estava na tribuna, ficaram fazendo reuniões no fundo e eu parei de falar, e pedi à Mesa que descontasse o meu tempo, Vereador. E a Mesa descontou o tempo.

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa, efetivamente, reconhece o direito de tempo excedente do Ver. Hermes Dutra e se redime por não tê-lo observado. Portanto, a Mesa não estava fazendo uma generosidade nem tinha uma tolerância, que é a parte desta Casa, mas apenas assegurava o direito que tem o Ver. Hermes Dutra, que se encontra na tribuna, quando, na oportunidade, teve que suspender os trabalhos para pedir compreensão e atenção dos Vereadores.

 

O SR. CLÓVIS BRUM: Agradeço à Mesa e peço desculpas.

 

O SR. ISAAC AINHORN: A matéria não é pertinente à Questão de Ordem e assegura ao nobre Ver. Hermes Dutra o direito de concluir sua intervenção em Comunicações.

 

O SR. HERMES DUTRA: Concluo, dizendo que poderia aproveitar a generosidade do Ver. Clóvis Brum, mas não aceito. Ao longo da semana, continuaremos a debater para mostrar à população de Porto Alegre a "paulada" que ela levou, da qual ainda não conseguiu se recuperar. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa apela ao Ver. Clóvis Brum para que não faça apartes anti-regimentais.

Liderança com o PMDB. Com a palavra, o Ver. Clóvis Brum.

 

O SR. CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, o Sr. Presidente, que no decorrer destes trabalhos tem-se mostrado como verdadeiro magistrado, e é, verdadeiramente, um magistrado, tem dado generosamente os tempos que entende justos àqueles que falam além do tempo regulamentar. O meu já começou a correr. Nem havia chegado à tribuna, e, generosamente, o Presidente, num ato magistral, e nem poderia ser de outra forma, marcou o tempo. Agora, o PDT, com esta dor-de-cotovelo que está vivendo com a tremenda derrota que levou nas urnas, não tem outra maneira de justificar a derrota. O Dr. Brizola, por exemplo, justificou-se para a imprensa, dizendo mais ou menos assim: "Companheiros da imprensa, se somarmos - da Baixada Fluminense - a votação da D. Sandra, do Seu Fulano e Seu Beltrano, a soma deles deu mais votos que a soma dos meus votos na Baixada. Entretanto, eles se juntaram e nós ganhamos deles; nós ganhamos, companheiros da imprensa, do PMDB no Rio de Janeiro". Isso é o Dr. Brizola explicando a vitória que obteve no Rio de Janeiro. Eu não entendi mais nada. Agora, o Dr. Marchezan, ontem, companheiro do Ver. Hermes Dutra, também tentou justificar o soerguimento do PDS no Rio Grande do Sul. Falou na luta que o PDS travou e que ele saía como homem fortalecido. Já não entendo mais nada nesta política. O PDT, Partido do Presidente, em exercício, dos trabalhos, levou uma lavada de votos no Rio Grande. Não se restabelecerá por muito tempo. O PDS está à beira de uma reciclagem, mas também está liquidado em todo o Brasil. Querer fazer um comparativo entre o Dr. Funaro e o Dr. Delfim Neto é brincadeira. O Dr. Funaro está tendo a coragem de enfrentar um congelamento que nunca se fez neste País. As forças de poderosíssimos grupos nacionais aliados, permanentemente, a grupos internacionais estão querendo, a qualquer preço, desmantelar a política econômica do Governo. Nunca o brasileiro comprou tanto quanto está comprando agora. O poder aquisitivo do brasileiro é incontestável. Há problemas nas medidas governamentais? Há. Nem tudo é perfeito, mas é incontestável o poder aquisitivo. Nunca se vendeu tanto, nunca o povo comprou tanto quanto agora. O trabalhador brasileiro está comprando. Está faltando arroz? Até pode estar, pois empresas poderosas estão cheias de sacos de arroz esperando que o congelamento caia para poder vender. Está faltando cerveja? Estava ontem ou anteontem, mas hoje não está faltando mais. Aumentou-se o preço da cerveja e agora falta mais. Acho que agora é hora de o PDT e o PDS darem um voto de confiança às medidas do Governo. Precisamos aceitar uma realidade. Não é fácil dirigir um país de dimensões continentais. Há angústia do Ministro do Trabalho na tentativa de buscar salários de acordo com as necessidades regionais, com os locais onde vivem e trabalham os trabalhadores.

Concluo, Sr. Presidente. Continuo dizendo que é difícil pegar um país derrotado, militarizado, com carência total de lideranças e fazê-lo emergir das cinzas, como o PMDB está fazendo, como a Nova República está fazendo. Hoje, neste País, pode-se discutir, pode-se dialogar, pode-se debater e concorrer a eleições livres e soberanas. Oxalá a Assembléia Nacional Constituinte, Sr. Presidente, e V. Exa. dava uma das raras assertivas nesta Casa, há pouco, possa trazer aquilo que o povo sonha e espera, que é uma vida mais feliz para os nossos trabalhadores, para os nossos filhos, para os nossos lares.

A Nova República está empenhada. Nada afastará a Nova República da meta de transformar este País num país onde todo mundo possa comer, trabalhar, criar seus filhos, educar seus filhos, tratar com dignidade a sua família. Esta é a meta da Nova República, e nós a alcançaremos, embora o PDT e o PDS não pensem assim. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. WERNER BECKER (Questão de Ordem): Pediria que a Mesa meditasse a respeito da Questão de Ordem que é de alguma relevância para o nosso convívio. Longe de mim qualquer enfrentamento. Vai o maior apreço às nossas colegas Vereadoras. Há um texto da Constituição Federal que diz que é proibida qualquer discriminação de raça, cor e sexo. Então, no Regimento Interno, onde obriga o uso de gravata, até agora não entendo por que obriga só aos Vereadores e não às Vereadoras. E não estou fazendo uma mera brincadeira. Estou argumentando para mostrar que é absolutamente obsoleto esse artigo, senão inconstitucional, do Regimento Interno. Não precisa um pronunciamento agora, mas um pronunciamento imediato da Comissão de Justiça, porque não acho democrático que as nossas queridas Vereadoras possam vir de "jeans" e nós sermos obrigados a enfrentar o paletó e a gravata.

 

O SR. IGNÁCIO NEIS (Questão de Ordem): Parece-me que o Ver. Werner Becker pode ter razão quanto ao fato de termos que usar gravata. Talvez não seja algo tão importante, mas o Regimento Interno é como o estatuto de uma sociedade, onde a maioria manda. E aqui a maioria não são as mulheres. Não são as mulheres que estão impondo aos homens esta obrigação e sim os próprios Vereadores que estão se impondo a si mesmos. Então, independe do voto das mulheres o fato de termos que usar gravata ou não. Basta mudarmos o Regimento Interno. Não é uma pressão das mulheres. O fundamento do Ver. Werner Becker é errôneo.

 

O SR. WERNER BECKER (Questão de Ordem): O que eu pediria é o pronunciamento da constitucionalidade ou não do Regimento Interno. Não basta que se afirme qualquer norma do Regimento Interno. Precisamos verificar que, acima da nossa decisão, existe a Constituição Federal.

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa passa a responder à Questão de Ordem pelo Ver. Werner Becker e, posteriormente, aditada pelo Ver. Ignácio Neis. O artigo 185 do Regimento diz: "É dever do Vereador apresentar-se decentemente trajado e comparecer às sessões plenárias com gravata". Embora não participe da mesma posição do Vereador quanto à relevância da matéria, entendo que a questão deva ser levada à CJR para que a mesma opine e veja se, eventualmente, encontra alguma inconstitucionalidade com relação a este dispositivo. O Regimento é recente. Foi feito durante esta legislatura, embora este Vereador não estivesse nesta Casa à época. Informamos que será levado o assunto para a CJR para que faça um exame quanto à constitucionalidade e para que já, como sugestão, apresente alternativa com relação ao Regimento Interno desta Casa que, como norma hierárquica inferior, evidentemente deverá se conformar com as normas hierárquicas superiores que regem a estrutura e as normas maiores da nossa Pátria.

Com a palavra, o Ver. Cleom Guatimozim.

 

O SR. CLEOM GUATIMOZIM: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, nada afastará a Nova República de dar alimentação aos que necessitam. Era o que dizia o Ver. Clóvis Brum, exatamente no momento em que a alimentação desaparece do supermercado. Nem sal. O gaúcho não tem mais carne, não tem mais sal e dizem que vai desaparecer o espeto, para completar. Não tem mais açúcar, não tem mais leite, não tem mais nada. E chegaram a uma inversão tal, que caiu exatamente no paradoxal, como é caso, por exemplo, dos automóveis: um automóvel custa 100 mil cruzados e um automóvel velho, do mesmo ano, 200 mil cruzados, o dobro. O Ver. Hermes Dutra bateu numa tecla certa quando disse que houve momentos de falta de lucidez do Governador eleito quando disse que é uma pena que as medidas não saíram antes da eleição. Isso é brincadeira! Os votos foram dados exatamente porque havia esperança de que continuasse o congelamento. Havia uma esperança. O brasileiro não vota por realizações. Ele vota por esperança de alguma coisa, e a esperança era de que continuasse o congelamento. Mas as urnas não estavam ainda devidamente apuradas quando caiu a barranca toda, inclusive descongelando-se, agora, o preço dos aluguéis e dando direito à negociação entre o locatário e o locador. Vejam, Srs. Vereadores, que houve um caradurismo das autoridades federais, também, quando anunciavam, às vésperas das eleições, que nada afastaria o Governo do seu congelamento e que os reajustas dados, então, principalmente dos hortigranjeiros, eram mínimos. E fizeram com que o povo brasileiro acreditasse que a situação iria continuar. Ora, alegaram ter descoberto uma fórmula, dentro da economia, que pudesse salvar os países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Ora, se esta fórmula existisse, não seria para a cabeça dura de alguns dirigentes brasileiros descobrir, mas sim para os maiores cientistas e estudantes de Economia do mundo todo, os quais teriam descoberto esta fórmula. O povo brasileiro acreditou. E hoje já se fala, Srs. Vereadores, que as eleições de 1988 correm risco de não saírem e de receberem uma prorrogação face ao descrédito em que o Governo caiu, com todos os seus integrantes, da noite para o dia. O brasileiro foi dormir acreditando na Nova República e acordou no outro dia com a manchete nos jornais de que era tudo mentira. Já se preparam, no Rio de Janeiro, os compositores, segundo soube hoje, para compor samba, porque isto dá samba. Em cima da miséria, em cima do sofrido brasileiro dá samba. Atinge o morro, atinge a favela, atinge os cortiços, atinge os pobres, atinge aos menos favorecidos, atinge a classe média e beneficia os poderosos. Assim, pecou o Ver. Clóvis Brum quando disse que ninguém afastará a Nova República do seu novo caminho. Só se é o caminho do engano e do engodo em que atiraram este País inteirinho. E eu tenho pena do trabalhador que, ouvindo o seu radinho portátil, ouvindo os Ministros da área econômica dizerem que não haveria descongelamento, acreditaram e votaram pensando que a coisa seria mesmo assim.

Vejam Srs. Vereadores que, se a eleição tivesse sido após o descongelamento, como queria o Governador eleito, Pedro Simon, o resultado, naturalmente, seria outro, muito diferente daquele que foi acusado nas urnas, de Norte a Sul, com a vitória do PMDB em todo o País. Estão desfazendo as promessas poucos dias depois. Não são meses nem semanas, mas uma semana após. Estão a desfazer tudo aquilo que haviam prometido ao povo brasileiro. Mas o povo tem memória quando lhe atingem a burra. Quando lhe atingem a bolsa, o povo guarda e registra. Assim, nas eleições de 1988, o povo cobrará o descrédito em que caíram os integrantes da Nova República ao mentirem não em pequena escala, mas em larga escala. A técnica aplicada pelo PMDB hoje, nesta Sessão, foi engraçada. Seu Vice-Líder vem aqui reclamar que algumas ruas não foram consertadas e, com a chuva, juntou água, e ela entrou em alguns lugares. Um mal muito menor e insignificante diante desse golpe violento que a Nova República deu na bolsa do trabalhador, funcionando gatilhos que acionam salários, a funcionar surpresas que acionam descongelamentos. E, mais uma vez, a classe média e o trabalhador brasileiro ficam arrasados.

O PDT faz o registro de que Leonel Brizola sempre advertiu o País com sua clara evidência de homem político, de homem experiente no cenário político brasileiro e internacional. Avisava o País de que quem acredita no Cruzado, acredita em Papai Noel. Aí está, hoje, em grande prestígio no cenário político nacional, Leonel Brizola, que não tem bola de cristal, nem atira búzios e não põe cartas, mas que tem uma experiência e é um atilado político, conhecedor do povo brasileiro e de seus problemas. Então, concluímos dizendo que o PDT vai continuar cobrando, nesta Casa, esse engodo vergonhoso que a Nova República fez com o povo brasileiro e as mentiras violentas que pregou antes das eleições. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Werner Becker): Solicito ao Ver. Cleom Guatimozim que assuma a Presidência dos trabalhos por ser o mais velho Vereador da Casa.

Com a palavra, o Ver. Hermes Dutra.

 

(O Sr. Cleom Guatimozim assume a Presidência dos trabalhos.)

 

O SR. HERMES DUTRA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, lamentavelmente não há mais ninguém do PMDB na Casa para continuar a ouvir. Eu só queria refutar. Alega-se que houve aumento de consumo. Ora, mas a cara-de-pau de determinados companheiros não dá para agüentar. Sabem V.Ex.as que, se forem a uma farmácia comprar um remédio, não o encontrarão. Aí vão dizer assim: “graças ao Plano Cruzado o povo consumiu mais remédios”. Eu só posso concluir, então, que o Plano Cruzado gerou mais doenças. É ridícula uma afirmação neste sentido. Não há remédios porque o Governo se mostra incapaz de meter o dedo nas grandes empresas nacionais e multinacionais desta área. E, se for verdade que houve um acréscimo de consumo, vou-lhes dar um outro dado: efetivamente, se o pobre, que antes adoecia e não comprava remédio, hoje adoece e compra remédio por causa do Plano Cruzado, nós teremos falta de medicamentos, o chamado medicamento de baixa renda. Nesta semana, saí a procurar um remédio para um familiar meu, cuja caixinha custa 45 cruzados, com seis comprimidos. Eu andei em 17 farmácias para poder encontrá-lo e somente encontrei a alternativa que o médico colocou atrás da receita. Alegar que este problema todo é gerado pelo aumento do consumo é brincadeira, é imaginar que o povo brasileiro não raciocina. O povo brasileiro pode ter alguns defeitos, e um deles é o de se deixar anestesiar e confiar cegamente nas propostas. Mas isto mostra que é um povo bom, que confia e que acredita. E ele confiou no PMDB e deu no que deu. Eu me revolto contra isto até por uma questão de sobrevivência política minha, porque isto gera desconfiança no político em geral. Não vai ser só o pessoal do PMDB que vai pagar isto aí. Nós, que não temos nada a ver com esta farsa, com este engodo, na próxima eleição também vamos pagar, porque o número de votos em branco também vai aumentar. A população vai dizer: “não adianta votar, porque os políticos são todos uns conversadores”. Vão colocar todos no mesmo saco. Eu me recuso a andar em tal companhia. Então, esta questão é que, efetivamente deve ser colocada. E não se resiste a um debate mais sério, porque não há argumentação que consiga justificar esta verdadeira aberração que está acontecendo. Vejam V. Ex.as que o novo índice, o terceiro este ano, que vai calcular a inflação é um índice altamente restrito. O que vai acontecer? Como ele é restrito, se houver um aumento do chuchu, a inflação vai ser jogada para cima e aí alguém poderá imaginar; “mas aí o trabalhador será beneficiado”. Não. Não será, porque o ilustre Ministro do Planejamento já afirmou que do novo índice, que já é restrito, serão expurgados os aumentos sazonais. Se houver um aumento no tomate devido a uma seca, empurrando o índice de inflação para cima, não vale para compensar o salário porque foi a seca. Quer dizer: o trabalhador que espere sentado. Sentado não, que espere deitado, porque não sei se terá saúde para esperar sentado, até lá, pelo famoso gatilho salarial que nunca será acionado. Ou melhor: foi acionado, mas contra a cabeça de todos nós, nos largando um tiro de uma Magnum 45, como se chama de bala cruzada, rebentando-nos. Pessoas que estavam em consórcio pela primeira vez para adquirir o seu automóvel, o que vão fazer? Estão vendendo a sua participação porque não têm condições de suportar um aumento de 104% que é, efetivamente, o valor do aumento do carro. Pessoas que tinham pago 10% para comprar um carro há dois, três meses, estavam esperando. Agora vêem seu sonho ir embora, porque não vão ter condições de pagar o preço duplicado do automóvel. E não se fique aqui a imaginar que automóvel é artigo de luxo. Claro que é só uma parcela da população que consegue ter carro, mas que parcela é esta? Disse o ilustre Ministro da Fazenda que são só 10% da população. Mas esqueceu-se S.Ex.ª que automóvel é propriedade familiar. Claro, 10% são 13 milhões de famílias que, multiplicando por três ou quatro pessoas que compõem uma família, dá quase metade da população brasileira. Por isto é lamentável que não esteja aqui o Ver. Clóvis Brum, que tão enfaticamente afirmou que a Nova República encontrou o País no caos, na vergonha. Eu acho que o Ver. Clóvis Brum tem razão. A Nova República encontrou o País à beira do precipício e deu um passo à frente. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Cleom Guatimozim): Liderança com o PSB. Com a palavra, o Ver. Werner Becker.

 

O SR. WERNER BECKER: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Srs. Funcionários da Casa, eis que, devidamente trajado na forma do Regimento Interno, ocupo esta tribuna em nome da Liderança do PSB.

Por menos colegas que estejam presentes neste Plenário, por menos público que esteja assistindo este trabalho, eu, como Vereador, brasileiro e advogado, não poderia calar, hoje, em relação aos escândalos das manchetes dos jornais que circulam pelo País.

O Sr. Ribamar, que atende pelo nome de José Sarney, tão logo assumiu a Presidência da República afirmou, na sua fala presidencial, que não editaria decretos-leis. Hoje o Diário Oficial publica quatorze decretos-leis da assinatura do Dr. José Sarney.

Sr. Presidente e Srs. Vereadores, amanhã não me surpreenderei se o Sr. José Sarney editar um ato institucional, porque tão legais quantos estes decretos-leis serão os atos institucionais se, futuramente, ele e o Sr. Funaro entenderem necessário para o bem de não sei quem, do povo. Em todo o caso, serão editados. Mas quero me referir a um extremamente escandaloso, reacionário, retrógrado, imoral, obsceno e teratológico. É aquele que libera, em 1986, ao fim do século 20, os aluguéis de prédios residenciais. Sr. Presidente e Srs. Vereadores, se eu estivesse na Europa, esconderia estes jornais dos países europeus, porque isto significa, em matéria de Direito Social, retroagir às anterioridades do Código Napoleão e voltar ao livre ajuste entre as partes em matéria de Direito Social. Estamos, a partir de hoje, mais atrasados que a Bolívia, Cingapura e qualquer ilha da Indonésia em matéria de Direito Social. Pasmem senhores do mundo inteiro: de agora em diante, os aluguéis serão livremente contratados. Voltaremos ao “laissez-faire”. Voltaremos ao que há de mais retrógrado e antigo, porque o capitalismo, com as suas regras selvagens e obscuras, se implanta como capital do mundo, agora em Brasília. Duvido que nos países do mundo, desde os Estados Unidos até a república mais atrasada da Austrália, tenhamos alguma coisa tão retrógrada, tão obsoleta - e desculpe, não a mim, mas ao Sr. Funaro - e obscena quanto esta nova lei dos aluguéis, que hoje é evitada, através do decreto-lei. Sr. Presidente e Srs. Vereadores, esperemos o próximo ato presidencial, que certamente será um ato institucional. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

 


EXPEDIENTE

 

OFÍCIOS

- 631/86, do Sr. Prefeito Municipal, solicitando que seja restituído o Processo nº 071906.85.1 e que o PLE nº 034/85 - referente a permuta de imóveis com José Elias Flores e Cícero dos Santos Abreu, - reexaminado pelo Executivo Municipal, retorne ao tramite normal.

- 02/86, da Comissão Especial, comunicando que em face da aprovação do Parecer do Relator, o encerramento dos trabalhos da mesma.

- 27/86, Câmara Municipal de Restinga Seca, comunicando que foi aprovado Voto de Pesar pelo falecimento do Vereador Valneri Antunes.

 

 


O SR. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar, convoco os Srs. Vereadores para a Sessão Solene, a seguir, destinada a homenagear o “Diário do Sul”.

Estão levantados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 16h05min.)

 

Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, 25 de novembro de 1986.

 

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